Cazuza
Agenor
de Miranda Araújo Neto, Cazuza, foi um cantor, compositor e poeta brasileiro, conhecido
por ser o vocalista e letrista principal da banda Barão Vermelho. Cazuza,
nascido em 1958, viveria um dos períodos mais duros da história do Brasil: a
ditadura militar. Durante esse período pode-se levantar diversas questões,
desde a homossexualidade do cantor, a censura das músicas, e a imprensa na
ditadura militar.
A imprensa e a ditadura militar
Durante
a ditadura militar, houve a eclosão odo jornalismo investigativo, que
transformou os profissionais do jornalismo numa espécie de investigador
cotidiano; e onde a a economia e a política eram temas de interesse público – o
jornalismo cidadão: a imprensa deve ter uma utilidade social. (BARBOSA, 2007 )
A censura
política da imprensa foi feita através de diversas formas, e tinha consequências
financeiras e organizacionais, além, é claro, das políticas, para os meios de
comunicação em questão.
A
censura prévia, que implicava a presença de uma equipe de censores na Redação, foi
a forma adotada contra vários grandes jornais que se recusaram a se submeter à
autocensura, (a obrigação de enviar a Brasília todos os materiais para que
fossem examinados, que foi o caso da imprensa alternativa, geralmente de frequência
semanal).
Atualmente não temos esse tipo de
censura, porém os meios de comunicação cada vez mais estão se polarizando e
tornando suas publicações cada vez mais maniqueístas – a informação é deixada
de lado e tudo é manipulado para que os ideais se sobressaiam naquilo que é
publicado.
A
vigência da censura prévia foi caracterizada por diversos períodos, como por
exemplo, durante um longo tempo, quando a censura caracterizou-se por uma série
de ordens escritas, detalhadas e frequentes, chamadas “bilhetinhos”. (SOARES,
1988)
Um dos
meios de comunicação mais afetados pela censura foi o Opinião, que juntamente
com o Movimento, a Tribuna da Imprensa e O Estado de São Paulo foram censurados com base no artigo
9 do AI-5.
O
Opinião resistiu a quatro anos e meio de pressões: 221 dos 230 números foram
feitos com censura prévia e, das 10.548 páginas escritas pelos seus colaboradores,
somente 5.796 chegaram aos leitores e além disso, o jornal sofreu um atentado a
bomba em 1976. (SOARES, 1988)
Mas
apesar de todas essas informações, há correntes que têm outras teorias a
respeito da participação da imprensa durante o regime militar. Como por
exemplo, Cláudio Abramo quando diz que se há
[...]
um equívoco que a esquerda geralmente comete é o de que, no Brasil, o Estado
não é capaz de exercer o controle, e sim a classe dominante, os donos. O Estado
influi pouco porque é fraco. Até no caso da censura, ela é dos donos e não do
Estado. Não é o governo que manda censurar um artigo, e sim o próprio dono do
jornal. Como havia censura prévia durante o regime militar, para muitos
jornalistas ingênuos, ficou a impressão de que eles e o patrão tinham o mesmo
interesse em combater a censura. (KUSHNIR apud ABRAMO, 2011 p.172)
Cazuza, censura e música
Após
o Ato Institucional nº 5, decretado em 13 de dezembro de 1968, a repressão às
manifestações artísticas se intensificou. Seus participantes, muitas vezes,
foram exilados, como é o caso de Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso,
Gilberto Gil e Geraldo Vandré, algumas vezes por decisão própria.
Em
meio a essa turbulência política, os festivais surgiram e deram abrigo às canções
reconhecidas por muitos autores como canções de protesto. As críticas ao regime
militar, mesmo quando não explícitas, motivavam a reação das autoridades,
desencadeando maior repressão e endurecimento. No que tange às letras das
canções, elas eram submetidas à censura da Polícia Federal que, depois de
analisá-las, indicava o que deveria ser modificado, podendo liberá-las ou não
para apresentação pública. (FREIRE; AUGUSTO, 2014)
Cazuza lançou, em 1985, já aos fins da ditadura militar.
Além da faixa-título, o álbum "Exagerado" teve outras duas canções
que deram o que falar: "Codinome Beija-Flor" e "Todas as Mães
São Felizes", e foram censuradas.
A
mãe de Cazuza, Lucinha Araújo, revelou numa entrevista ao portal UOL que Cazuza
achou o máximo e adorou ter o seu disco censurado. (PORTAL UOL)
Ainda
é importante que se reitere: com a movimentação criada pelas “Diretas Já” em
1984, que pregava o fim da ditadura militar e as eleições diretas, o país
voltou ao regime democrático, que trouxe novamente a liberdade de expressão.
E
esta nova fase da história brasileira somada ao grande sucesso do Rock por aqui
fez surgir o maior festival para o gênero no país e que foi a mensagem final da
vitória da juventude e do Brasil sobre os grilhões da ditadura militar: o Rock
In Rio em 1985 que reuniu as principais bandas de rock do país e também de fora
do Brasil foi o símbolo maior e o grito da liberdade de toda uma juventude que
havia reconquistado seus direitos políticos e sua cidadania.
Cazuza, sexualidade e a imprensa
Por
mais que a repressão na época fosse motivada principalmente por questões
políticas, referentes ao anticomunismo, a homossexualidade sempre mereceu uma
espécie de repressão específica dos órgãos do estado. “Era como se a
homossexualidade fosse um instrumento que a subversão utilizava para atacar os
valores morais e da família tradicional, de acordo com o governo da época”.
(PAVAN, 2015)
O então ministro das Relações
Exteriores Magalhães Pinto fundou uma comissão de investigação sumária em 1969
que buscava cassar os funcionários do Itamaraty que atentavam “contra a moral e
os bons costumes”; o órgão começou a solicitar exames psiquiátricos e s para
identificar se os novos funcionários eram homossexuais ou não.
A sociabilidade dos grupos LGBT
ficava restrita aos guetos, como boates e saunas e, com isso, a realização dos
desejos destas pessoas ficava muito velada.
“O
desafio das feministas ao patriarcado, à rigidez dos papeis de gênero e aos
costumes sexuais tradicionais desencadeou uma discussão na sociedade brasileira
que convergiu com as questões levantadas pelo moimento gay [...]”.(GREEN, 2000
)
Porém,
engana-se quem pensa que a esquerda estava totalmente engajada e que apoiava
com firmeza tais movimentos. A esquerda colocava estes movimentos em segundo
plano em prol da luta armada pelo retorno da democracia. E os grupos deveriam
escolher entre a sexualidade ou a revolução.
Cazuza
era homossexual e teve grande influência em toda a mídia durante a sua vida,
não somente pelo fato de ser gay, mas por sua música, por sua expressão e por
sua irreverência e polêmica. Sua relação com a imprensa foi além da polêmica,
quando o poeta foi capa da edição n°1077, que trazia uma fotografia de Cazuza,
já debilitado pela AIDS, com o seguinte
título: “A luta em público contra a AIDS” que não apenas levantou questões a
respeito da AIDS, mas também sobre a ética no jornalismo e o respeito a imagem
da pessoa.(NUNES, 2010 )
Conclusão
Com
relação a luta dos movimentos LGBT, o que é necessário nessas questões é
respeito e o mínimo de coerência entre as partes – geralmente o movimento gay e
a ala mais conservadora da sociedade. Deve-se ter primor pela constituição
brasileira e assegurar aos brasileiros o direito à liberdade – a liberdade de
uma pessoa começa onde começa a liberdade do outro. Os ataques mútuos entre
essas partes não levarão ninguém a lugar algum; levarão ambos os movimentos ao
fundo do abismo.
Não
foi a ditadura militar brasileira que inventou a homofobia no país. Certamente
ela acentuou as posturas homofóbicas, mas as origens dessas posturas remetem a
tempos mais remotos da história.
A liberdade de expressão durante a ditadura e a conveniência de determinados
meios de comunicação refletiu de maneira extrema no jornalismo atual – vide
que, até hoje o jornalismo é feito por conveniência de ideias e não por
transmissão de informação de qualidade. Assim como o tratamento que é dado a
informações referentes a homossexualidade: quase sempre os meios de
comunicações, quando não caem no óbvio, caem no sensacionalismo.
Para
resolver essa situação é necessário uma coisa: o respeito acima de todas as
coisas e o reconhecimento de que é necessário ética no jornalismo. Não proponho
regulamentar a mídia. A liberdade de expressão e publicação deve estar acima de
quaisquer censura. Proponho um Conselho Nacional de Ética Jornalística.
Profissionais capacitados filosófica e jornalisticamente que possam analisar os
casos que possam ser antiéticos ou que firam princípios essenciais, tais como a
liberdade, a igualdade, os direitos humanos e a dignidade da pessoa humana,
para que se faça um jornalismo consciente, coerente e que seja digno de
apreciação pela sociedade brasileira.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Marialva. História Cultural da Imprensa. Brasil – 1900-2000. Rio de Janeiro:
Mauad, 2007.p. 221.
FREIRE, Vanda Lima Bellard; AUGUSTO, Erika Soares. Sobre flores e canhões: canções de protesto
em festivais de música popular. Per musi,
Belo Horizonte , n. 29, p.
220-230, jun. 2014 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-75992014000100022&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 28 out. 2015.
GREEN, James Taylor. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São
Paulo. Editora UNESP, 2000. p.394.
NUNES, Tatiana Norato. Cazuza:
O Caso da Veja 1.077 – Análise ética do discurso da revista Veja sobre a doença
e morte de Agenor de Miranda Araujo Neto. Ponta Grossa,
v.1, n. 6, p. 145-171, dez. 2009/mai. 2010.
Disponível em <http://www.fnpj.org.br/rebej/ojs/index.php/rebej/article/viewFile/157/100>
Acesso em: 28 out. 2015.
KUSHNIR, Beatriz. Calar é consentir! Jornalistas colaboradores e censores no pós-1964. Rio
de Janeiro, vol. 1, ano 1, jun-ago, 2011.p 170-182. Disponível em <http://www.historia.uff.br/nec/sites/default/files/09._Beatriz_Kushnir.pdf>
Acesso em 28 out 2015.
PAVAN, Bruno. A
homossexualidade e a violência estatal da ditadura.
São Paulo, 2015. Disponível em <http://www.brasildefato.com.br/node/31176>
Acesso em: 28 out. 2015.
PORTAL UOL. Cazuza
achava o máximo ter disco censurado, conta Lucinha. 12 jun 2015. Disponível em<http://mais.uol.com.br/view/1xu2xa5tnz3h/cazuza-achava-o-maximo-ter-disco-censurado-conta-lucinha-04020D193564C0A95326?types=V&>
Acesso em :28 out 2015.
SOARES, Glaucio Ary Dilllon. Censura durante o regime autoritário. Trabalho
apresentado ao XII Encontro Anual da Anpocs , Águas de São Pedro, SP, 25-28 de
outubro de 1988. Disponível em <http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_10/rbcs10_02.htm>
Acesso em 28 out 2015.
Esse Cazuza era na época a ideia de total liberdade ate sexual, ele ofendia igrejas em suas músicas e hoje defenderia os comunistas
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