Muito se fala sobre amar as pessoas. No cristianismo, amar ao próximo é algo que demonstra que verdadeiramente você teve uma mudança de vida. É amando ao próximo que você se faz semelhante a Cristo. Mas na cabeça de muita gente, o amor está restrito aos elogios, ao seu tratamento respeitoso para com as pessoas. Para grande parte das pessoas, os julgamentos não cabem dentro do amor. Se você ama, você deve aceitar a pessoa como ela é, amar suas qualidades e defeitos. Engana-se aquele que pensa dessa forma.

Amar alguém é saber que aquela pessoa tem defeitos e qualidades e que você vai amá-las apesar disso. Porém, isso não significa que você irá fechar os olhos para os defeitos dela e conviver com aquilo, como se aquilo fosse parte do pacote "amar". Amar apesar dos erros, mas apontando e corrigindo as falhas. Não se trata de você ser bom ou melhor do que quem você ama, mas sim de amar. Exato: quem ama não deseja que a pessoa amada se afunde em seus erros. Pelo contrário, quer o melhor dela.

Quem ama corrige, julga e aponta os erros alheios. E faz isso porque não porque é orgulhoso e quer diminuir a pessoa, vamos lembrar que apontar erros alheios não nos impede de cometê-los. Faz isso porque AMA. O amor não é feito somente de coisas fofas e adoráveis. É formado também por aquelas amargas atitudes que às vezes precisamos tomar. Dizer um "você não deveria ter feito isso" ou "você precisa mudar algumas atitudes" não é nada fácil quando se ama alguém. Mas são as atitudes mais difíceis de se tomar que provam o seu amor. 


Elogios, abraços e beijos são fundamentais na demonstração do afeto e do amor. Mas quando você confronta uma pessoa a arrepender-se de uma atitude errada e às vezes é até rígido com esse alguém, você está atingindo um nível sincero e verdadeiro de amor. Não um amor que se firma  nos momentos bons e carinhosos, mas que se sustenta em verdade e lealdade. Ainda que aos olhos de quem está sendo corrigido seja árduo e duro ouvir que está errado.

Se você ama alguém sem julgar as atitudes dessa pessoa, você está apenas bajulando essa pessoa. É o famoso "massagear o ego", que não faz bem nem ao massageador, nem ao massageado. Amar vai além de gostar e estar junto. Amar vai além de estar junto e gostar de alguém. Às vezes é necessário se afastar de pessoas que você ama por não concordar com atitudes que ela toma. Não que você não a ame. É que simplesmente você não pode confirmar as atitudes dela nem apoiá-la em decisões toscas e imbecis. E vocês se afastam.

Amar requer sacrifícios. Requer que estejamos dispostos a apoiar as pessoas a quem amamos em suas decisões sensatas, estar junto delas em momentos que precisem, em momentos em que elas caem e querem ajuda para levantar. E é também saber que o amor não convive com o erro. E que o amor muitas vezes pode ser um balde de água fria na  cabeça de muita gente.
A minha série favorita é Monk: um detetive diferente. Desde que assisti Sr Monk volta à escola, um dos episódios da segunda temporada, fui me identificando com Monk. Não por suas fobias ou TOC, mas pela maneira que ele se portava diante das pessoas. E foi Monk que me ajudou a não ser mais um garoto tímido e retraído.

Elenco da série a partir da 3º temporada

Adrian Monk cresceu com Transtorno obsessivo-compulsivo, além de uma série de tiques e fobias. Ele era um detetive brilhante e trabalhava para o Departamento de Polícia de São Francisco, até que sua esposa Trudy morreu numa explosão de carro em 1997 ao ir comprar um remédio para Ambrose, irmão de Monk.

Monk sofreu um colapso por não ter encontrado quem matou Trudy: suas fobias se agravararam de modo que o capitão e chefe de polícia Leland Stotlemayer teve que afastar Monk, que se isolou, recusando sair de sua casa por três anos. Com a ajuda da enfermeira Sharona Fleming, Adrian finalmente sai da casa e começa a trabalhar consultor particular para a polícia em casos muito difíceis.

As manias, tiques e fobias fazem com que Monk não seja o tipo de pessoa que tem muitos amigos ou com quem as pessoas se sentem à vontade. Ele tem medo de germes, e evita cumprimentar as pessoas. Quando cumprimenta, limpa as mãos com um lenço. Adrian não sabe se comportar com as pessoas - se sabe, não se importa em seguir tais regras de comportamento.

Eu era assim. Sabe aquela pessoa meio bicho do mato, que prefere não conversar com ninguém a passar vergonha? Prefere não comer nada na casa de um estranho por vergonha? Não se enturma ou não fala com ninguém porque não conhece ou tem medo de sei lá o quê? Era eu.

Mas embora eu não tenha TOC, tiques, manias, nem uma história traumática como a de Monk, eu pude aprender inúmeras lições com ele. Enquanto foi casado com Trudy, ele tinha apresentado melhoras; quando Trudy se foi, ele perdeu o chão. Monk já havia aprendido algo que eu não: as pessoas o faziam ser melhor, no caso de Monk, Trudy o fazia melhor.


Abertura da série.


Adrian entendeu que precisava de alguém para ajudá-lo a superar seus medos, crises e fobias. Ele deixou sua timidez de lado, suas fobias, suas angústias e arriscou estar ao lado de Trudy. E Trudy lhe fazia muito bem, o amava e tinha muita paciência com as peculiaridades de Monk.

Monk me ensinou a não ter medo das pessoas. E que elas podem me fazer ser melhor. Podem me ajudar a superar medos e obstáculos. Eu não preciso ter medo delas.

Também aprendi uma outra coisa com ele, mas dessa vez ao longo das temporadas. Monk não se importava com as pessoas, se importava consigo e com aqueles mais próximos -  e olhe lá. Mas à medida que as temporadas se iam, Monk ia deixando de lado suas "esquisitices" e se tornava cada vez menos egoísta.

Monk começa a se enxergar nas pessoas. Como em Sr. Monk e a Desmemoriada, onde Adrian passa a ver Sharona como uma pessoa normal, não só como sua enfermeira. Embora ele já a tratasse com naturalidade e quase como uma amiga, nesse episódio Monk percebe Sharona com olhos menos egocêntricos do que antes, já que Sharona acha que está ficando sem memória como seu pai.

Monk me ajudou a perceber que as pessoas não são monstros e eu posso conversar com elas; se eu me colocar no lugar delas, isso fará com que eu me sinta menos retraído, menos tímido, afinal, ela é alguém como eu. 

E se Adrian Monk, com suas fobias, chiliques, tiques e manias conseguiu superar tudo e conquistar novamente seu emprego, o que impede alguém que não tem nem mania, nem tique, nem fobia, de ser alguém mais sociável e menos detestável?