Este é um conto escrito por mim num lapso de indignação contra o que algumas igrejas que se diem cristãs têm se tornado.[Tem uns palavrões aí]. Aproveite a leitura e deixe seu comentário!
Todos os que estavam ali já não eram os mesmos. O pastor, antes atencioso e amoroso com todos da congregação, agora pouco se importava com as suas ovelhas: o importante era a "contribuição para a obra de Deus". As ovelhas, pouco se importavam umas com as outras: o importante é que ali, entre aquelas quatro paredes "o milagre ia chegar", "as bençãos iriam ser muitas".
A hipocrisia reinava. Dona Leila ,por exemplo, era uma ´benção´ na igreja: cantava como um anjo, ajudava na cantina pós-cullto e recebia as pessoas na porta da igreja. Fora da igreja era o próprio demônio: infernizava seu marido e filhos, ao menor sinal de irritação mandava alguém à puta que o pariu e vivia como se nunca tivesse colocado os pés na congregação: amarga e reclamona, digna de pena.
Seu Cleiton, um quarentão chato que gosta de encher o saco dos outros não sai por menos. Ai de você se aparecer de bermuda na igreja ou com a saia acima da canela. Deu uma risada no meio do sermão? "Menino mal educado. Tenha mais respeito com a santa palavra!", reclamava. "Quanta falta de reverência na tua casa, ó Pai", murmurava quando acontecia qualquer coisa que ele não gostasse.
A cada dez frases de Seu Cleiton, onze são para reclamar de algo.A única diferença entre o homem reclamão de olhos fundos e a senhora Leila era que ela costumava ser um demônio fora da igreja. Cleiton não se restringia somente ao "fora da igreja". Dentro dela ele também era um.
Daniela e Flávio vivem apontando os pecados alheios."Por que é que essa gente ainda vêm à igreja?" , ela se questionava aos murmúrio, enquanto os alvos de seus comentários iam entrando um a um na igreja. "Como é que deixam esse viado entrar aqui dentro?!", seu marido pensava consigo.
As principais fofocas e comentários da igreja passam pelos lábios desses dois. O filho do pastor que transou com a filha da diaconisa antes do casamento; o filho da irmã Clarissa, que era homossexual; os anos de prostituição que Cleusa tinha em seu currículo, o irmão Júnior que não deu o dízimo... TUDO era de conhecimento geral se você contasse ao casal. Ou quase tudo. Ninguém sabia dos inúmeros abortos que Daniela fez vezes ou dos dias de bêbado de Flávio - muito menos que traiu Daniela há seis meses com a líder do grupo de teatro.
O pastor Ademir era o ápice da falta de vergonha na cara. Há tempos atrás era uma pessoa fantástica. Falava de como ele era alegre por ter Cristo na vida dele. Visitava as famílias da igreja sempre com um sorriso no rosto. Ligava para os que não tinham mais ido ao culto para dizer que sentiu falta deles. Mas agora era alguém totalmente diferente. O homem que antes não dava bola pra dinheiro, agora não falava de outra coisa. Comprou uma fazenda onde ia todos os fins de semana, voltava apenas para o culto de domingo à noite.
Seus sermões de domingo eram maravilhosos. Sempre enfatizava que as pessoas são pecadoras e mais ainda o grande amor que Deus tinha por elas. Pregava sobre a cruz de Cristo como um namorado apaixonado descreve sua namorada. Mas não eram mais assim. Agora o foco de suas mensagens eram o quanto você podia ser abençoado. O quanto Deus pode te abençoar se você contribuir. Inventou campanhas mirabolantes: "sete semanas de vitória", "conquiste sua benção", "doze dias de jejum para doze meses de benção". E cada vez mais Ademir transformava Deus num barganhador vagabundo que está interessado no seu dinheiro.
Não fosse a arquitetura comum às igrejas, você não diria que esta é uma igreja. Ou diria. Afinal, a maioria delas tem se tornado exatamente o oposto do que deveriam ser. Em vez de serem espaços de amor e comunhão, tem se tornado antros de imundície. Em vez de ser a noiva descrita em Cantares, tornou-se uma prostituta barata de um bordelico qualquer.

0 comentários :
Postar um comentário